Poesia Era uma vez duas Rosas

                    
  Ontem, aconteceu em Curitiba o Seminário "Prevenindo a mortalidade materna" promovido pela União Brasileira de Mulheres. Intercalando as palestras, aconteceram exposições de arte, artesanato, shows e poesia.
Eu participei com uma exposição de textos decorados com imagens da artista Graciela Scandurra e recitei algumas poesias. Tema difícil...


Era uma vez, duas rosas

A Rosa mulher,
ainda uma menina.
Branca, pálida, franzina.

A outra rosa,
ainda um botão de flor.
Mas, seria vermelha sua cor.

Rosa menina queria um vestido dourado,
sonhava ser modelo, morar no Rio de Janeiro
dançar a valsa de 15 anos com o namorado
casar, ter filhos e ganhar muito dinheiro.

Rosa flor nasceu no jardim da casa da Rosa mulher.
Era apaixonada por um belo crisântemo amarelo
vivia cercada por cravos, lírios, bem-me-quer
e o sol, acordava-a todo dia com um beijo singelo.

Rosa menina engravidou antes de parir seus sonhos.
Viu interrompida sua fantasia de menina.
Sua vida transformada num pesadelo medonho
levou-a a procurar uma clínica clandestina.

Rosa flor espreguiçava-se distraída,
oferecendo-se inteira ao calor do verão
de repente sentiu uma fisgada dolorida
uma facada no caule... a queda... o chão.

Rosa mulher, acusada de um ato impuro
expulsa de casa, grávida, sem esperança
submeteu-se a um aborto inseguro
pôs fim à sua vida e a da criança.

Não é dourada a mortalha da menina
e sobre seu peito, jaz uma flor em botão
Meu Deus! O que vejo? Que triste sina!
Duas rosas tenras, mortas num caixão.


(marilda confortin)