OVERDOSE - de Claudia Muniz



Sentado à beira da rua dei um trago em minha vida.
Injetei-me no deleite de meu corpo e na sofreguidão de meus dias.
Contei com família, nenhuma.
Ri com os amigos que não tive.
Andei de mãos dadas pela praça, com a namorada que não tinha braços.
Li e estudei, tudo que ninguém jamais ouviu.
Cantei, dancei, vivi...
E fui para um mundo sem nome.
Lá havia letreiros onde era possível ler: "Olhe dentro de você"
E fui eu! Para dentro de mim.
Passei pela cabeça e ela estava confusa,
não deixava que meus olhos vissem,
 minha boca falasse e meus ouvidos escutassem.
Desisti.
Fui para o estômago e lá me diverti.
Havia muita "beer", com bolinhas efervescentes.
No pulmão, foi impossível, nada pude ver.
Quando estava lá, fui atingido pela neblina de Cubatão.
Já estava cansado, mas, por curiosidade, quis visitar o coração.
Não foi bom! Ele estava vazio, oco, vago...
E então senti que fortes alucinações me tomavam e com elas meu corpo se retorcia.
Morri!
E foi por "overdose" de mim mesmo.

Cláudia Muniz