Poesia Óleo sobre tela


Óleo sobre tela

Pouso meus olhos sobre telas de Van Gogh.
Deito-me ao lado do ceifador
e adormeço sobre feixes de trigo.

Cena familiar.

Cedo ao sonho.

Retrocedo à infância.

Vejo-me criança, pura
como a loucura do pintor.
Inerte, braços abertos,
no meio do trigal maduro,
fingindo-me espantalho.
Um gérmen ainda.
Nem sabia o que era poesia
e já sentia.

Os pássaros pensam
que meu cabelos brancos
são feixes de palha.
Espanto-os.

Da janela do sanatório
Van Gogh se espanta

e borra um corvo sobre o campo de trigo.

Acordo.
Kurosawa sonhou comigo?

Marilda Confortin