Nada há além da arte e do belo – ampliando conceitos

A arte “underground”, desde Andy Warhol, artista de expressão mediana, mas superestimado por alguns grupos culturais, que produziu alguns ícones tidos pela mídia como de forte impacto social. A arte indígena, massacrada em sua inocência pela estética do mercado de consumo ocidentalista. O próprio artesanato utilitarista ou não. Todos foram sendo dizimados pelos ditames das culturas dos vencedores. No entanto, resgates foram realizados por antropólogos, por indigenistas, por museólogos; resultando, então, na montagem de acervos especiais, quando não em sala ou edificação exclusivas para este tipo de arte de um povo ou de parte dele.


Em paralelo com tal arte vamos encontrar também a arte dita “trash”; a arte retórica; a arte fora da arte; a arte incidental; a arte não arte, como arte contestatória de si mesma, negando sua própria expressão.

Mas então isto é arte? – perguntar-me-ia alguém espantado com a simplicidade de um arranjo ou com o turbilhão de insignificados aparentes de uma tela, de uma instalação, de um som, de um verso... Sim, eu diria. Aqui temos uma arte, dentro do pressuposto da representação de um fragmento cultural no tempo. Porque toda arte não se move com o tempo indefinidamente, mas por ele e através dele pode ser levada. Somente a arte documental pode se deslocar no tempo, mas apenas por breves períodos. Somente a arte pode ter tal amplitude. E assim o que dizer do belo? Onde ele se define? Será mesmo ele o filho dileto da oligarquia, da burguesia? Com direito a brasão e heráldica?

Creio que não. A busca do belo é a busca da virtude entre os humanos. As aparições do belo na natureza a todos encanta. E tanto faz surja ele na forma avassaladora de um vulcão em erupção; seja no bailado gentil de um casal de golfinhos a correr num mar azul, entre a linha do céu e da água, a brincar, a namorar, pregando na cara do expectador uma máscara com novo sorriso.

O belo é procura, é entrega, é e sempre será a insatisfação do criador com a criatura. Porque apesar da arte buscada ter a intenção e por vezes arranhar a expressão mais bela, sempre se almeja a perfeição. E o que há de burguês nisto? Por acaso as fiandeiras ou as rendeiras, com seus trabalhos não buscam o belo? Por acaso o oleiro, o vidreiro, o padeiro, ao confeccionarem uma cerâmica, um vidro ou um pão não o fazem com arte, não buscam um sentido que vá além da sua utilidade prática? É claro que sim. E mil vivas a eles. Mil vivas ao pão quente servido na mesa, a uma cerâmica encantada, tendo ao lado uma flor silvestre da manhã em um vidro decorado pelo vidreiro de minha predileção.

E Picasso entendeu isto. Ele mesmo fez lá seus jarros, vasos e utensílios, que mais serviram ao prazer do olhar do que das mãos. Porque o homem em tudo que busca com arte se compraz e se frustra com a não obtenção da perfeição. Ele o faz sempre, e repetidamente, porque por vezes o que vale é a luta, é o caminho trilhado, não a forma final, não a chegada.

Por isto finalizo esta revisão do primeiro texto dizendo que me vale num texxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxto a cerca em “x” que separa o teto da alma ou o tê do tô, onde não tomo tê, nem estou. E neste meu comprazer com a linguagem, debruço-me na cerca para olhar o que passa ou simplesmente o que ali está quase parado. Como as lavadeiras no riacho a cantar e a bater na pedra as roupas pesadas, como paisagem da minha infância que jamais de mim se afasta ou se afastará. Somente então descobrimos que a memória também é uma arte. E que bela arte ela é.

Por TONICATO MIRANDA
Leia o primeiro artigo sobre esse tema: http://iscapoetica.blogspot.com/2011/02/nada-ha-alem-da-arte-e-do-belo.html#links