Crônicas de Itapuã II

Outra coisa muito boa foi uma cachacinha que tomei. Indicada pelo Bojan, um esloveno que trabalha seis meses aqui e seis meses na Eslovênia. Ele e sua mulher Liomar gerenciam a Pousada Poesia onde me hospedei. Eita lugarzinho gostoso. Bem que eu podia morar aqui, namorar aqui, morrer aqui.
lendo o livro Minha guerra alheia, da Marina Colassanti - na piscina da pousada que tem vista pro mar e um portãozinho no muro que já dá na areia.

 
Postei essa foto mostrando meus joelhos, só prá provocar a Jaque, minha sobrinha, que postou essa outra abaixo. Você não me faz inveja, Jaque. Pegue essas pernas de modelo e venha desfilar aqui, menina!

Tem muito estrangeiro casando com as brasileiras. Não sei se isso é bom ou ruim. E também não tenho nada com isso. Não to aqui pra analisar porrrrr(c)aria nenhuma. Só quero me sentar sob a sombra de um guarda-sol e beber uma cerveja gelada.




Minha brancura constrange as pessoas. A reação das crianças é muito engraçada. Esquecem o que questão fazendo e ficam boquiabertas me olhando cara de incrédulas.
 
_ Buuu! Sou um fantasma. Vou te pegar...

_ Mãe, manhêeee!

Discretos, os adultos fingem que não me enxergam. Exceto os vendedores de bugigangas. Esses já chegam falando inglês comigo.

Um vendedor de pipas passou tocando atabaque e cantando:

“ Ai ai meu Deus
Minha vida é ser pagodeiro
Ai meu Deus
Iluminai o meu terreiro
Toda mulher é minha amada
Ai ai meu Deus
Só quero ser feliz e mais nada”

O pai de Rian comprou uma pipa e ensinou o menino a empinar. O mesmo pai que ainda há pouco deixou o filho de uns 4 ou cinco anos sozinho, torando sob o sol e foi lá atrás fumar um baseado junto com a mulher.

_ Pai, pai .... mãe....

_ Larga mão de chorá minino. Teus pais já voltam. Quer uma castanha?

_ Paiê, socorro! A mulher fantasma buliu comigo. Ela qué me envenená.

Quem ainda não tinha reparado na minha brancura reparou. E se pôs de prontidão em defesa do garotinho. Os pais voltaram e derem um peteleco na cabeça do Rian. Nem me agradeceram por eu cuidar do menino.

- Max! Vem Max!

Que vem, que nada! Max, um cachorro de pêlos pretos e longos se encantou com a sombra da pipa do Rian e ficou pulando, tentando abocanhar o rabo da pipa. 

E Rian ria contagiando a gente toda e o pai de Rian rodopiava a pipa no ar provocando o cachorro, fazendo-o pular, latir e perseguir o brinquedo até dentro do mar. 

A torcida se dividiu. Metade queria que o cachorro estraçalhasse a pipa. Eu estava nesse bloco. Outra metade queria que o habilidoso pai salvasse a pipa dos dentes afiados do Max. E, claro, tinha um monte de gente falando mal de quem leva cachorro pra praia, de quem solta pipa, de quem ri sozinho, de quem deixa as crianças no sol, de quem fuma, de quem bebe, de quem vive e por ser dia de finados, nem os mortos escaparam .

Não sei como terminou. Fiz algumas anotações no meu caderno e fui interrompida por um vendedor.

_ Vai um amendoinzinho aí loura?

_ Manda.

_ A senhora é escritora, é?

Folgado, todo de branco e cheio de colares de conchas e missangas, Carlos Moreno já foi sentando na minha mesa e se apresentando:

_ Eu sou compositor e cantor. Carlos Moreno ao seu dispor.

Ofereci um copo de cerveja e pedi pra ele cantar uma de suas composições. Cantou uma, cantou duas, o povo ao redor foi ouvindo e ele foi ficando cada vez mais animado.

_ Posso gravar?

_ Pode. Mas tem que botá no iutube. Vá que uma gravadora me descubra...

Por coincidência, estávamos bem onde a Rua da Música desemboca no mar, perto do Farol de Itapuã, entre a rua da Poesia e a rua do Teatro. Eu só queria saber quem foi o artista que pintou o mar com todas aquelas cores. É muito lindo.

Filmei o Carlos Moreno com meu celularzinho e tasquei na internet. Ta lá no link:








Voltei pra pousada trançando as pernas. Já passava das quatro da tarde e eu só tinha comido amendoim com cerveja. Carlos, Riam e Max,  foram boas companhias naquela tarde de Itapuã.

Antes de almoçar, tomei um banho e deitei só um pouquinho pra descasar. Acordei as oito da noite. Pedi um lanche e dormi outra vez. Ehê pilequinho bom!