Crônicas de Itapuã I

O sol nem acabou de derreter no mar de Itapuã e lá veio aquele fiapo de lua, uns três palmos atrás seguindo a mesma trilha. Mas não há de ver que está correndo atrás do sol, aquela baianinha arretada? Pensa que não vi, é? Vão se esconder no escuro, lá embaixo da noite, né...

Adalberto há mais de uma hora sentado na mesma pedra que eu, assuntou:

- Ta ouvindo a pedra que ronca?

Contou que nasceu em Cachoeira e agora mora em Salvador. Todo o dia 25 de junho, Cachoeira vira capital da Bahia, me disse orgulhoso de sua terra natal. Me contou sua vida toda. Não foi uma história triste, não.
Mas anoiteceu e a história não terminava. Estava na adolescência ainda, o rapaz. Comecei a ficar preocupada quando vi a lua seguindo o sol. Vá que ele se inspire. Bati o chinelo na pedra para tirar a areia e peguei o rumo da pousada. Ele me seguiu. Não fez nenhuma gracinha, não falou nenhuma bobagem. Educado que só vendo. Disse que eu parecia um grãozinho de areia branca em cima da pedra preta. Que bonitinho. E pensar que nunca mais vou ver Seu Adalberto nem ninguém que passou aquela tarde comigo em Itapoã, ouvindo o mar de Itapoã. E pensar que somos só um grãozinho de areia anônimo nesse mundaréu de gente...

Luciana é uma moça simpática. Cheia de frufruzinhos nos cabelos. Estendi minha canga ao lado dela, lá na praia de Guarajuba, em Camaçari hoje de manhã.

- Que calor infernal, né?

Falei e me arrependi imediatamente. Me senti a própria curitibana besta que não sabe puxar conversa sem reclamar do tempo.Com tanta coisa boa pra falar...que mania de falar mal das coisas!

- Benza Deus! – disse ela.

Viu a diferença do nordestino com o sulista? Eu comecei a conversa falado do inferno e ela me respondeu agradecendo a Deus pelo sol. 

Papo vai, papo vem, contei que comi um peixe vermelho, assado na brasa, com purê de mandioca. Gostoso. Muito comum por aqui. A dona do restaurante me trouxe um molho de pimenta rosa, feito por ela mesma. Disse que não ardia nadica de nada. Fui devagar, desconfiada. A tal da pimenta era doce, muito gostosa e não ardia nada mesmo. Me deu um potinho pra levar. Quando me despedi, ela me confessou: Não é pimenta. É semente de aroeira.
  
Um sorriso branco saltou da boca morena de Luciana. Morena não. Preta, preta, pretinha. Disse que a mãe dela também fazia esse molho com a semente de aroeira. Começou a me ensinar a receita. Foi quando apareceu sua amiga Cássia e estacionou uma maca ali na areia. É isso mesmo! Uma maca hospitalar, sim. E abriu uma maletinha cor de rosa cheia de potinhos de óleos naturais. Pegou uma bacia cheia de água, uma toalhinha branca e começou oferecer massagem relaxante como quem vende cerveja na praia.

Uma massagem nos pés... era tudo o que eu queria. Custava quinze reais, mas como eu já era amiga da sua amiga, só cobrou dez. Afe! Que coisa boa. Cássia ganha a vida assim. De praia em praia com sua maca, seus óleos e suas mãos milagrosas. 

Depois que recebi a massagem e não morri nem nada, vieram mais umas cinco pessoas interessadas. 

- É só uma branca, com cara de gringa, aceitar uma massagem que a coisa acontece. Eita povinho – disse ela.

Virei garota propaganda da Cássia.  Ganhei mais uma massagem de graça pra amanhã.  Lembrei da minha filha Nayara que vai se mudar pro litoral. Se tudo der errado, filha, você ainda pode aplicar agulhas nos turistase ser muito feliz a beira mar. É só me chamar pra te ajudar... rs

Cássia, a massagistade praia.