Restrições




Temo pelas
entregas
quando ciúmes
imperam;
bons vinhos
ponderam
ir mais lento
às adegas.

Vilmar Daufenbach

OLHARES




Não me olhes
com esses olhos de melindres
pão de mordaça
farpa de ferpa
arame farpado
desconfiados
vesgos
um pra cada lado
não me olhes
com esses olhos findos
fundos
prometendo sois ao mundo
cuidado
eles traem
e atraem
suicidas
não me olhes
com esses olhos alheios
que procuram atalhos
e se recolhem em infâncias
lilázes
olhos que bóiam
na cerveja caipira
curiosos
furiosos
famintos
fumegantes
olhos que fogem
e tropeçam em esquinas
que me ensinam
onde meu fogo ocorre
olhos que me chovem
e me acendem
não me olhes com esses olhos
de ovo frito estrelado
decididamente
não me olhes
com esses olhos
de cigarro apagado

(CAFÉ CULTURA 06/12/04: Bia de Luna, Marilda, Altair, Juliana, Celita)
poema escrito a 5 mãos num bar numa daquelas noites infernais
A pontuação fica por conta do leitor
Coloque onde quiser
Onde fizer sentido
Se fizer

DISTÂNCIAS
Altair de Oliveira

Pudesse, eu seria doce
e, se desse, desde o começo
de sede, eu viesse cedo
relendo o seu endereço.

E fosse avesso do avesso,
azul do tanto que houvesse
gastasse um gesto de gesso
num beijo gosto de festa.

E nunca mais me esquecesse
feliz em todas as espécies...
Por mais que a vida nos perca
e a morte esperta nos pesque.

III FESTIVAL INTERNACIONAL DE POESIA EM GRANADA



Como divulguei anteriormente, fui convidada pelo comitê organizador do III Festival Internacional de Poesia de Granada, Nicarágua, para representar o Brasil nesse importante evento internacional. O convite foi enviado oficialmente ao Itamaraty, que contatou a mim e ao poeta Tiago de Mello. 
Nunca vi tanta sentada gente numa praça para ouvir poesia 


E lá fomos nós. Muitas oficinas, palestras, recitais em praças, escolas, universidades, embaixadas, centros de cultura, entrevistas e visitas a lugares que nunca imaginei ir, como por exemplo ao Vulcão Masaya e surpresas inesquecíveis como conhecer Padre Ernesto Cardenal e Gioconda Belli, as duas figuras mais polêmicas da Nicarágua. 


Alguns bom momentos retratados em foto, abaixo

http://Carnaval acompanhando os poetas nas ruas de Granada


Centenas de pessoas nas ruas. Em cada esquina de Granada, um poeta subia no "poeta-móvel", falava de seu país e recitava pelo menos uma poesia. Por todos os lugares existiam banners com boas vindas e a frase que dizia ¡VIVA LA POESÍA!



Tive meu momento de gloria no poeta-móvel e falei por todos os poetas brasileiros

E TOMEI UNS TRAGOS COM ERNESTO CARDENAL,


E POSEI PARA A FOTO COM UM BÊBADO DA RUA,


E CONHECI GIOCONDA BELLI,


E FIZ RODA DE LEITURA COM THIAGO DE MELLO,

E MAIS DE 200 POETAS DE TODOS OS CONTINENTES,


QUE ASSIM COMO EU E VOCÊ,
TEMOS UM VULCÃO ATIVO DENTRO DO PEITO,
PRONTO PARA EXPLODIR A QUALQUER MOMENTO,
COMO TANTOS VULCÕES QUE EXISTEM NA NICARÁGUA
E NO CORAÇÃO DOS POETAS.

VULCÃO MASAYA

Meu coração
se viu pela primeira vez
no espelho

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VIVA LA POESÍA!

Elisa Lucinda



[...] Sempre quis um amor que coubesse no que me disse. Sempre quis uma meninice entre menino e senhor, uma cachorrice onde tanto pudesse a sem-vergonhice do macho quanto a sabedoria do sabedor.
Sempre quis um amor cujo BOM DIA morasse na eternidade de encadear os tempos: passado presente futuro, coisa da mesma embocadura, sabor da mesma golada. Sempre quis um amor de goleadas, cuja rede, complexado pano de fundo dos seres, não assustasse.
Sempre quis um amor que não se incomodasse quando a poesia, da cama me levasse. Sempre quis uma amor que não se chateasse diante das diferenças.
Agora, diante da encomenda, metade de mim rasga afoita o embrulho e a outra metade é o futuro de saber, o segredo que enrola o laço, é observar o desenho do invólucro e compará-lo com a calma da alma, seu conteúdo. Contudo, sempre quis um amor que me coubesse no futuro e me alternasse em menina e adulto, que ora eu fosse o fácil, o sério e ora um doce mistério, que ora eu fosse medo-asneira e ora eu fosse brincadeira ultra-sonografia do furor [...]. Trecho do poema DA CHEGADA DO AMOR - de Elisa Lucinda

Á veces creo que te amo


Á veces creo que te amo, pero luego se me pasa

Es cuando lluevo
Tromolo
Humedezco
Emulo tierra en el celo
Lloro
Pero, quando escampa
Te evaporo

Es cuando despierto
Rebooto
Reinstalo saberes
Sabores
Deleito recuerdos
Reluto deletarte
Y salvo-temporariamen-te

Es cuando me río
Diluyo
Fluyo
Desaguo en tus braços
Afluente
Y me olvido que soy
Solamente riacho.

Es cuando sueño
Me extasio
Fijo la mirada en el vacio
De la saudade
Pero hay siempre
Un maldito mosquito
Que vuela de repente
Trayéndome de vuelta
A la realidad.

(marilda confortin)