Poesia NEPENTHE



ELE: Nem te sabia e já te queria.Todo dia eu te inventava. Feito artesão, te esculpia.
ELA: Me guardava. Me prometia-te,
ELE: Cheguei. Desentristeça. Teça.
ELA: Tecerei. Te serei... sinto frio...
ELE: Trago lã para te aquecer.
ELA: Só queria te esquecer...
ELE: Ainda choves?
ELA: Chovo. Mas me faltam raios e rimas.
ELE: Perdestes a chave, poesia?
ELA: Fiquei presa por dentro. Ando mal de repentes.
ELE: E se eu chegasse de repente?
ELA: Assim em pleno expediente?
ELE: Sim, de presente.
ELA: Com teu olhar de indigente?
ELE: Sim... rs. Tem uma coisinha pra dar?
ELA: Tenho. Nepenthes.
ELE: Então me dá.
ELA: Entre!
ELE: Serpente...

(MarildaConfortin)

Nepenthe: Bebida mágica, remédio contra a tristeza; Planta carnívora; Do grego ne=não, e penthos=dor


POEMA QUE VENTA À BERTA

Altair de Oliveira

Eu na lenta taberna aguënto a menta
Tento o quatro, tonto de aguardente...
E na porta sebenta adentra a Berta
Que incerta se senta "PERNABERTA"
E pela benta saia  "DESCOBERTA"
O meu olhar aperta, mira e entra.

Poesia no Bosque


Minha poesia foi morar no meio de um bosque, em frente a um lago, num paraíso.


Ah! Esse meu pensamento... 
entra por caminhos que nem sei. 
Viaja sozinho, me abandona, 
deixando meus olhos vazios.
Quando volta, me traz pequenas lembranças:

- Estive na infância e lembrei-me de ti...

Eu e mais 12 escritores curitibanos, recebemos hoje esse belo presente. Trechos de nossas obras foram gravadas em painéis espalhados ao longo da Trilha do Conhecimento, um caminho que adentra o Bosque Irmã Clementina, inaugurado hoje, dia 30 de março, em comemoração ao trecentésimo décimo quinto aniversário de Curitiba.

Adélia Maria Woellner, ao microfone, agradeceu a homenagem em nome de todos os poetas.



Viva a poesia!

Gota a gota


Nasci.


Um profundo poço vazio.
Com cinco filtros perfeitos
e um sexto, que às vezes faz sentido.
 
Através deles,
como se fosse um dreno ao viés,
a vida foi me preenchendo: Gota a gota.

Primeiro, entraram as pedras mais pesadas,
depositadas bem no fundo da infância
e serviram para controlar a umidade da alma
e fixar meus pés na terra.
(Nasci tão leve e líquida, não fosse esse peso,
eu seria um pássaro ou um peixe).

Com o tempo, a vida foi instilando outras peças,
encaixando-as umas sobre as outras,
deixando raros intervalos entre elas.

Por esses vãos,
circulavam rios de sentimentos.

E assim, ela foi fazendo seu trabalho.
Construindo-me.

Habitou-me de amigos, amores, filhos.
Ergueu paredes, dividiu-me,
plantou jardins, porões, sótãos, teias.


Quando me dei conta, estava cheia.
Comecei a escavar-me.

Não importa se o que transborda
desta comporta é bom ou ruim.
Estou purgando:
Gota a gota.

Abrindo espaços dentro de mim.